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Algas ajudam a limpar os mares de plásticos

17/10/2025
Ação das bolas de Netuno surpreende cientistas


Nos últimos anos, o acúmulo de plásticos nos oceanos tornou-se uma das maiores ameaças ambientais do planeta. Estima-se que milhões de toneladas de resíduos plásticos cheguem ao mar todos os anos, prejudicando a vida marinha, contaminando os ecossistemas e até retornando à cadeia alimentar humana em forma de microplásticos. Nesse cenário preocupante, a natureza parece ter desenvolvido um curioso aliado na luta contra a poluição: as chamadas “bolas de Netuno”, formadas por algas marinhas capazes de aprisionar fragmentos de plástico e ajudar na limpeza dos oceanos.

Essas estruturas naturais recebem o nome em homenagem ao deus romano dos mares, Netuno. Elas são produzidas por uma planta marinha conhecida como Posidonia oceanica, uma espécie de planta com flores que habita o Mar Mediterrâneo. A Posidonia forma extensos prados submersos, fundamentais para a biodiversidade marinha, pois servem de abrigo e alimento para inúmeras espécies. Além disso, desempenham papel importante na produção de oxigênio e na retenção de carbono, contribuindo para o equilíbrio climático.

As “bolas de Netuno” são formadas a partir de fibras resistentes que se desprendem das folhas mortas da Posidonia. Com o movimento das ondas, essas fibras se entrelaçam e comprimem, formando esferas compactas, semelhantes a novelos de palha, que podem variar de alguns centímetros a mais de dez centímetros de diâmetro. O fenômeno é natural e já conhecido há séculos pelos habitantes das regiões costeiras do Mediterrâneo. O que surpreendeu os cientistas, no entanto, foi descobrir que essas “bolas” têm um papel ecológico muito mais importante do que se imaginava.

Pesquisas recentes mostraram que, ao se formarem, as bolas de Netuno capturam microplásticos que flutuam na água. Esses fragmentos acabam presos entre as fibras das bolas e quando as marés as arrastam para a praia levam com elas o plástico do ambiente marinho. Segundo um estudo realizado por pesquisadores da Universidade de Barcelona, cada bola pode conter centenas de microplásticos, funcionando como um filtro natural que ajuda a limpar os oceanos.

Estima-se que, graças a esse processo, milhões de fragmentos de plástico possam ser removidos anualmente das águas do Mediterrâneo, apenas com a ação natural das algas. Embora esse número ainda represente uma pequena fração do total de resíduos plásticos nos mares, o fenômeno revela um importante mecanismo de autorregulação ecológica — um exemplo de como a natureza encontra formas de mitigar os impactos causados pela atividade humana.

Contudo, os cientistas alertam que as bolas de Netuno não são uma solução definitiva para o problema da poluição plástica. Elas representam apenas um paliativo natural, e sua eficácia depende da saúde dos ecossistemas marinhos. Infelizmente, os prados de Posidonia oceanica estão em declínio devido à urbanização costeira, à poluição e às mudanças climáticas. A degradação dessas áreas ameaça não só a biodiversidade, mas também a capacidade das bolas de Netuno de desempenharem seu papel de “limpadoras do mar”.

Para preservar esse curioso e valioso fenômeno natural, é fundamental adotar medidas que reduzam a produção e o descarte inadequado de plásticos, além de proteger os habitats onde essas algas se desenvolvem. Incentivar o uso de materiais biodegradáveis, ampliar políticas de reciclagem e investir em educação ambiental são passos indispensáveis.

As bolas de Netuno simbolizam a resiliência e a sabedoria da natureza. Elas nos lembram que, embora o planeta tenha mecanismos próprios de defesa, é dever da humanidade atuar com responsabilidade para que esses processos naturais possam continuar existindo. Em um mundo sufocado por plástico, pequenas esferas formadas por algas marinhas nos mostram que a solução pode começar no fundo do mar — mas depende, sobretudo, das escolhas que fazemos na superfície.

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